quarta-feira, 11 de maio de 2011

Codependencia: a escravidão mútua (Por Roberta de Medeiros)

É comum que o familiar de um alcoólatra ou de doente, por exemplo, dedique-se integralmente a essa pessoa, a ponto de se sentir totalmente responsável por ela. Essa atenção exagerada costuma ser bem vista por todos, já que a tomamos como atitude zelosa para com o outro, uma demonstração de afeto. No entanto, essa rotina de cuidados pode mascarar uma perigosa relação de codependência em que as pessoas envolvidas se deixam escravizar mutuamente.

Isso faz com que elas se distanciem da sua verdadeira identidade, tomando de empréstimo as expectativas, desejos e necessidades da outra pessoa. De alguma maneira, essa relação de dependência funciona como uma estratégia de defesa a qual costumamos recorrer para sobreviver em tempos de crise é uma forma de crescer em ambientes dolorosos. Sentimos como se a vida só fosse possível quando nos agarramos fortemente a alguém, quando vivemos em função desse outro.

Desde cedo, as crianças percebem que os sentimentos positivos que lhes é dirigido dependem muito do estado de humor dos pais e, assim, crescem inseguras. Assim, elas aprendem a se basear nos desejos alheios ao invés de investir em suas expectativas. E não raro a dependência mútua é passada de geração em geração. O filho de um pai alcoólatra, por exemplo, poderá manter a mesma relação de dependência, seja por álcool, compras ou trabalho quando adulto.

Diante do sentimento de inadequação, essas pessoas então buscam a perfeição em cada gesto, cobrando demais de si mesmas, talvez por acreditar o que isso lhes trará aceitação. Outras se julgam obrigadas a desempenhar o papel de salvadoras, sua auto-estima passa a depender da sua capacidade de ajudar as outras, especialmente as que se as pessoas que se colocam no papel de vítimas; isto por não se julgarem boas o bastante para que sejam aceitas de outro modo. Existem também os revanchistas que tentam compensar as humilhações a partir de grande feitos, ansiosos para reafirmar sua importância.

Todos os casos mencionados são formas variadas de manifestação de um mesmo problema, a dependência excessiva da aceitação do outro, a necessidade de aprovação. Segundo Roberto Ziemer, mestre em psicologia social pela PUC-SP e autor do livro “Do Medo à Confiança: como realizar seu projeto de vida” (Editora Gente), o primeiro passo é desvencilhar do que ele chama de “eu falso”, aquele que tomamos de empréstimo a partir de relações destrutivas. “Através da identificação, questionamento e transformação dos papéis falsos descobrimos que existe uma maneira mais espontânea e saudável de estar no mundo”, ele diz.

Outro passo é resgatar nossos próprios sentimentos e nos conscientizarmos das nossas próprias necessidades. Identificar os limites entre a própria identidade e a da outra pessoa também pode ajudar. Ao nos libertarmos das crenças e regras destrutivas do passado, poderemos estabelecer nossas próprias regras. “À proporção em que nos libertarmos da opressão auto-imposta seremos capazes de fazer contanto com a nossa criança interior, aquela representa os aspectos mais genuínos, espontâneos e criativos de nossa personalidade”.

Enfim, “nosso bem-estar comum deve estar sempre em primeiro lugar”, como reza a tradição do Codependentes Anônimos, um programa de recuperação voltado para pessoas que sofrem de dependência afetiva. Além de ensinar seus associados a se ver livre dessa relação de escravidão, o site do grupo oferece algumas perguntas que ajudam a identificar se a pessoa mantém ou não comportamento típicos de codependência:

-Você se sente responsável por outra pessoa?

-Sente culpa quando outras pessoas têm problemas?

-Costuma dizer "sim" quando quer dizer "não"?

-Procura agradar aos outros ao invés de agradar a si mesmo?

-Vive tentando provar aos outros que é bom o suficiente?

-Buscar desesperadamente amor e aprovação?

-Tolera abuso para não perder o amor de outras pessoas?

-Sente-se aprisionado em um relacionamento?

-Teme expressar suas emoções de maneira aberta?

-Ignora os seus problemas ou finge que as circunstâncias não são ruins?

-Costuma ajudar as pessoas a viverem?

-Acredita que elas não sabem viver sem você?

-Tenta controlar eventos, situações e pessoas através da culpa?

-Procura manter-se ocupado para não entrar em contato com a realidade?

-Sente que precisa fazer alguma coisa para sentir-se aceito e amado pelos outros?

-Tem dificuldade de identificar o que sente?


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