quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Depois de cada tempestade, depois de cada tragédia surge o novo.

DESMEDIDA -



Um intenso barulho acordou a cidade... Relâmpagos e fortes trovões despertaram os homens que ainda dormiam ou os que já quase despertavam... Os animais domésticos procuravam abrigo como podiam e as crianças choravam... Adultos se benziam e suas impotências se evidenciaram... Os imponentes prédios acenderam suas minúsculas luzes, artificiais e desnecessárias... A natureza dava seu espetáculo nos céus... Águas raivosas, tropas de choque desfilavam soberanas pelas avenidas há pouco tão charmosas e orgulhosas de si. Nem mais os “garotões” com suas máquinas "infalíveis" e suas ingênuas onipotências... Onde ficaram a competência, a superioridade, a despreocupação ou obrigações inadiáveis dos humanos?!
Tudo tão de repente! Águas barrentas e furiosas deram aviso... ultimatum, pois já vieram mais calmas, rio indolente e até acariciante, nas vezes anteriores. Homens sofrem de surdez, de miopia, de esquecimento... de insensatez. Nós, riopretenses, com todo nosso glamour não ouvimos as advertências... Agora, os recados estão por toda a cidade. Nos lugares mais visíveis... Mais públicos, para que os especialistas não aleguem ignorância. As mais simbólicas imagens foram esculpidas em minutos... Algumas delas deveriam ser preservadas como lembrança para todos nós... Nossos alicerces foram abalados. Alicerces de todas as moradias... até de nosso ethos, nosso lar pessoal, interior. Pedras não param somente sobre pedras... é preciso outro material de composição até intangível para preservá-las e há a necessidade dos alicerces...do invisível alicerce!!!
Triste e dolorosa lição, com vítimas e generoso heroísmo...
Aconteceu na área central, por onde transitam... todos nós: os pés nus e os olhos protegidos por lentes e por filtros; por onde entram as autoridades... por onde desfilam os conquistadores de troféus: com seus carros e com seus utensílios ruidosos... Por quê? Porque os fartos se esquecem de que são precisos escoadouros adequados para todos os excessos...
O homem se torna racional e assim autorizado a modificar a natureza em benefício da pólis se não lhe faltar a moderação: "nada em demasia". A desmedida abre caminho para as forças ditas irracionais (da natureza) agirem. “Se você age sem precaução e sem respeito a mim, então verás quem sou...” Foi assim com várias cidades! E assim continuará. pelos séculos....
Nenhuma maquiagem, nenhum artifício, nenhuma demagogia esconderá nossa irresponsabilidade do olhar atento da Terra, que tem sua tolerância também limitada pela lei da moderação... Para enfeitarmos nossa cidade e a nós mesmos será preciso sempre uma organização dos fluxos internos e externos... ser e estar andam juntinhos...
Vamos nos reorganizar... parece que todos precisamos andar com mais atenção e mais respeito por todos nossos caminhos. Este sentimento de perplexidade que nos acometeu o temporal, ele mesmo é que produz pensamento e transformação!
Estou com os sapatos barrentos e com as paisagens vasculhadas. Trabalho bom para ser feito em 2010. Novas paisagens... podem surgir... até com flores nos canteiros centrais podemos "sonhar".
Lucila Papacosta

Realmente as tempestades não são más. São elas que purificam a atmosfera e que derrubam troncos envelhecidos.
São as tempestades que fazem a história avançar.
Depois de cada tempestade, depois de cada tragédia surge o novo.
Ela é capaz de derrubar florestas, árvores e flores, mas incapaz de danificar as sementes.
O Evangelho do Cotidiano-Dom Itamar Vian

Por isso, eu acredito, o "Homem" deve e precisa aprender a respeitar e preservar a natureza e solidificar sua vida na força das suas sementes (seus valores e virtudes).

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